Santos da Baixada
Aline Figueiredo
Curadora Out/2019
Santos da Baixada
The world without photography will be meaningless to us if there is no light and color, which opens up our minds and expresses passion.
Aline Figueiredo
Curadora Out/2019
Santos da Baixada” é o título da exposição dos fotógrafos Luzo Reis e Antônio Siqueira, contemplada no Projeto “Circula MT” da Secretaria de Estado de Cultura. A exposição será apresentada em Rosário Oeste e Chapada dos Guimarães em praça pública e em Cuiabá no Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Compreende-se por Baixada Cuiabana, todo o percurso do rio Cuiabá e seus afluentes. O rio Cuiabá nasce no alto da Serra Azul, em Rosário Oeste, logo recebe a contribuição do rio Nobres, na margem direita, e avoluma-se ainda mais com a junção do rio Manso, na margem esquerda. A bacia do rio Cuiabá abrange 14 municípios, dos quais os nossos fotógrafos visitaram 9. A área inclui zonas de proteção ambiental, a exemplo do Parque Nacional do Pantanal mato-grossense, localizado na sua foz e o Parque Nacional de Chapada dos Guimarães na parte setentrional.
Inventada na primeira metade do século XIX, a fotografia é uma arte contribuidora, também, da cultura mato-grossense. Em meados desse mesmo século, fotógrafos já estavam inseridos nas expedições e já documentavam este universo remoto de dentro. A exuberância da paisagística, da flora, da fauna e da hidrografia, verificada nos nossos três ecosistemas, Amazônia, Cerrado e Pantanal, muito motivam os fotógrafos por aqui.
Luzo Reis (Cuiabá, 1987) e Antônio Siqueira (Cuiabá, 1967), se entrosaram muito bem na tarefa de enfocar o universo da cultura popular da nossa Baixada Cuiabana, onde as águas formadoras da Bacia do rio Cuiabá são também águas formadoras da base persistente da fé. A valorização do homem local, aquele velho braço de resistência, aquelas mãos enrugadas que puxam as rezas e conduzem o santo, cuja a fé, seja talvez, a grande motivação de estarem ali, integrados e tão íntegros. Nessas manifestações, o sincretismo religioso acontece com sincera naturalidade expressiva entre o sagrado e o profano. Ora, a ritualística do acontecer é plena porque a todos envolve. Em ambos as fotografias nos comprovam que a fé é a resistência da velhice e da memória, professora ancestral da tradição.
Os trabalhos mostram um luxo caboclo e requinte no vestuário, a beleza singela das decorações internas, limpeza e suavidade. A expressão estampada nas feições, insinuam rugas de devoção. As mantas de carne de boi estendidas nos varais garantem o churrasco. Antes era o peixe o prato preferido nas festas, já que são povoados ribeirinhos, hoje é a carne do boi que já está nos pastos e os rios já não são tão limpos e nem tão piscosos.
Photo é luz; a fotografia, portanto, é a gravação ou o registro da luz. Assunto que os nossos fotógrafos sabem bem captar são os mistérios da luz, sob patas de cavalos, entre nichos, sombras recônditas e altares que são como palcos de um teatro que promovem a devoção. Em Luzo, um movimento barroco capturado pela luz, dá uma densidade dramática nos jogos, nas danças, procissões, nos violeiros. Já Siqueira enfoca ambientes externos e internos em que paredes e mobiliários mostram um certo sentido concreto, cujo o geometrismo dos cantos vai no âmago da cultura popular. Aliás, vejo neste projeto uma somatória de encontros, de primos, Luzo Reis e Antônio Siqueira, ambos apresentados pelo mesmo mestre inspirador, o fotógrafo José Medeiros.
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